terça-feira, 7 de maio de 2013






      

      Acabei esses dias de ler o livro Alimento dos Deuses de Terence Mckenna. O livro é um estudo da evolução humana através do mundo vegetal. É sim, esse livro fala de cogumelos e outras plantas psicoativas que na visão de Terence contribuíram de forma direta em nossa evolução.

“Uma coisa profunda, inesperada, quase inimaginável nos espera se levarmos nossas atenções investigativas para o fenômeno dos alucinógenos vegetais xamanicos. Os povos que estão fora da história ocidental, que continuam na época de sonho da pré-escrita, mantiveram acesa a chama de um mistério tremendo. Seria humildade admitir isso e aprender com eles, mas tudo isso faz parte do renascimento arcaico.”

O autor fala de xamãs, natureza, povos antigos e uso de substâncias que alteram a consciência de forma positiva ou negativa.

“A noção de natureza como um todo organísmico e planetário que medeia e controla seu próprio desenvolvimento através da liberação de mensagens químicas pode ser um tanto radical. Nossa herança do século XIX é que a natureza não passa de "dentes e garras", onde uma ordem natural impiedosa e irracional promove a sobrevivência dos que são capazes de garantir sua própria existência continuada à custa dos concorrentes. Concorrentes, nessa teoria, significa todo o resto da natureza. Entretanto, a maioria dos biólogos evolucionários há muito considera incompleta essa visão darwinista clássica da natureza. Hoje em dia há uma compreensão geral de que a natureza, longe de ser uma guerra infinita entre as espécies, é uma infinita dança de diplomacia. E a diplomacia é em grande parte questão de linguagem.”

 Sua critica a forma como algumas drogas se tornaram durante nossa evolução em legais e outras em ilegais, é atualíssima e vale ressaltar necessária para quaisquer reflexões sobre nosso modelo dominador.

“O álcool é usado por milhões de pessoas, homens e mulheres, e não farei amigos assumindo a posição de que a cultura do álcool não é politicamente correta. Entretanto, como podemos explicar a tolerância legal com o álcool, o mais destrutivo de todo os tóxicos e os esforços quase frenéticos para reprimir praticamente todas as outras drogas? Não seria porque estamos dispostos a pagar o preço terrível que o álcool cobra porque ele permite que continuemos com o estilo dominador repressivo que nos mantém como participantes infantis e irresponsáveis de um mundo dominador caracterizado pelo marketing da fantasia sexual não realizada?

Mostra em seu texto uma abordagem favorável à maconha em detrimento aos críticos da planta.

“Tudo que torna a cannabis inimiga dos valores burgueses contemporâneos liga-a ao Renascimento Arcaico. Ela diminui o poder do ego, tem um efeito mitigante sobre a competitividade, faz com que questionemos a autoridade e reforça a noção da importância meramente relativa dos valores sociais. Nenhuma outra droga pode competir com a cannabis em sua capacidade de satisfazer os desejos inatos da dissolução arcaica de fronteiras e ainda manter intactas as estruturas da sociedade comum. Se todo alcoólatra fosse um maconheiro, se todo usuário de crack fosse um maconheiro, se cada fumante fumasse apenas cannabis, as consequências sociais do "problema das drogas" seriam transformadas. Entretanto, como sociedade, não estamos dispostos a discutir a possibilidade dos vícios auto-administrados e a possibilidade de escolha inteligente entre as plantas às quais nos aliamos. Com o tempo, e talvez em consequência do desespero, isso acontecerá”.

Sobre uma das drogas mais potentes em nosso mundo atual: a televisão;

(...) A analogia mais próxima do poder da televisão e dos valores de transformação que ela trouxe à vida do usuário contumaz é provavelmente a heroína. A heroína achata a imagem; com a heroína as coisas não são quentes nem frias; o drogado olha o mundo certo de que, independente do que seja ele não tem importância. A ilusão de conhecimento e de controle engendrado pela heroína é análoga à suposição inconsciente que o consumidor de televisão tem de que aquilo que ele está vendo é “real” em alguma parte do mundo. De fato, o que está sendo visto são as superfícies cosmeticamente melhoradas dos produtos. A televisão, ainda que não seja quimicamente invasora, é tão viciante e fisiologicamente prejudicial quanto qualquer outra droga:

(...) O hábito de ver televisão distorce a sensação de tempo. Toma as outras experiências vagas e curiosamente irreais, enquanto assume para si própria uma realidade maior. Ela enfraquece os relacionamentos ao reduzir e algumas vezes eliminar as oportunidades normais para conversar, para se comunicar.

Conceituando as drogas...

“Precisamos de uma definição aproveitável do que queremos dizer com droga. Uma droga é uma coisa que causa comportamento não examinado, obsessivo e habitual. Você não examina o comportamento obsessivo; você simplesmente o tem. Você não deixa nada se interpor no caminho de sua gratificação. Esse é o tipo de vida que nos estão vendendo em todos os níveis. Olhar, consumir e olhar e consumir mais ainda. A opção psicodélica está de lado, num canto minúsculo, jamais mencionado; entretanto ela representa o único fluxo diretamente contrário à tendência de deixar as pessoas em estados programados de consciência. Estados que não são programados por eles mesmos, mas pela Madison Avenue, pelo Pentágono, pelas 500 corporações da Fortune. Isso não é apenas uma metáfora; está realmente acontecendo conosco...”

A metáfora dos zumbis como autoimagem angustiante de nossa atual realidade:

“Não conhecer nossa verdadeira identidade é ser uma coisa louca, sem alma: um golem. E, de fato, essa imagem, doentiamente orweliana, se aplica à massa de seres humanos que agora vivem nas democracias industriais de alta tecnologia. Sua autenticidade está na capacidade de obedecer e de seguir mudanças no estilo de massa apresentada pela mídia. Imersos em comida de má qualidade, mídia que é um lixo e política criptofacista, estão condenados a vida tóxica e com baixo nível de consciência. Sedados pela dose diária de televisão, são mortos vivos, perdidos para tudo que não seja o ato de consumir”.

Recomendo para todas as mentes pensantes esse livro, em nosso contexto atual continua sendo válido para despertar a urgência de uma simbiose com a natureza... Não sairemos ilesos sozinhos.


“Assim fica pronto o cenário para a evolução da autoimagem humana totalmente desprovida de alma, vagueando num universo morto, vazio de significado e sem bússola moral. A natureza orgânica é vista como guerra, o significado toma-se contextual, e o cosmo é visto como sem sentido. Esse processo de aprofundar a psicose cultural (uma obsessão com o ego, o dinheiro e o complexo das drogas álcool/açúcar) alcança seu auge em meados do século XX, com a espantosa afirmação de Sartre de que a natureza é muda. A natureza não é muda, mas o homem moderno é surdo – ensurdecido porque não se dispõe a ouvir a mensagem de atenção, equilíbrio e cooperação que é a mensagem da natureza. Em nosso estado de negação devemos proclamar que a natureza é muda – de que outro modo evitar encarar os crimes horrendos que cometemos durante séculos contra a natureza e contra os outros? Os nazistas diziam que os judeus não eram verdadeiros seres humanos, e que, portanto, seu assassinato em massa não tinha qualquer consequência. Alguns industriais e políticos usam um argumento semelhante, negando a alma do planeta para desculpar sua destruição, a destruição da matriz necessária a toda a vida”.







Vídeo sobre o Renascimento Arcaico












Thiago Mendes

Mudrasavra


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