Ele estava ansioso, pois finalmente iria se encontrar com um mestre de verdade. Havia marcado o encontro num pequeno jardim da cidade. A impaciência o incomodava e eis que de um dos lados da praça surge um sujeito vestido de forma usual, quase sua idade, um pouco feio. Se aproximou dele e lhe disse:
_ Você é mais cego do que imaginava, volte outro dia!
Alguns dias depois novamente o esperava no jardim, dessa vez o tempo parecia não ter fim e acendia um cigarro atrás do outro, quando o mestre chegou perto dele falou:
_ Você fuma então não é senhor de si mesmo, volte depois!
Largou o cigarro em menos de uma semana e correu para o encontro quando o mestre apareceu ao longe e gritou:
_ Você largou o cigarro apenas por que pedi, é mais vaidoso do que imaginava volte depois!
Ficou puto de raiva, sua mente perturbava-lhe com vozes dizendo:
_ Lhe avisei, ele não é mestre...Volte a fumar idiota...fez um esforço para nada....
Mas ele manteve a retidão e voltou alguns meses depois no mesmo jardim, sem preocupações de tempo, desejo e imagens. Sua mente se silenciou. O mestre apareceu e caminhou junto dele e disse:
_ É mais sensato do que imaginava!
E deu alguns passou, olhou para trás e o chamou:
_ Venha temos muito o que conversar ...
E com o mestre ele foi.
Thiago Mendes
Mudrasavra
terça-feira, 21 de maio de 2013
Comprei esse poema em Niterói e aqui o reproduzo:
"Sonho e Realidade"
Esta noite passou despercebida, nem mesmo o céu brilhou
Novas estrelas irão surgir pelo infinito
E os homens dormirão em serenata
Onde repousa minha paz
As luzes não se apagarão e o brilho será intenso
No ar perfume de flores desconhecidas
E canção do eterno
Para a dança da vida
Sentido emoções incomuns
Vestindo cores cintilantes
o corpo repousa ao som da música
Numa continuada audição relaxante
Sonhos e delírios no profundo adormecer
Na manhã pássaros embelezam a paisagem
Sussurros sincronizados revelam um novo dia
Onde o sol renova as energias
No horizonte novos montes
Ao passo do cisne caminha a natureza
Neste universo de tamanha grandeza
Existem dimensões que retratam uma beleza maior
o ciclo renovado
Estende-se em raios revitalizantes
E a nossa volta variações multicores
Nos levam ao futuro presente do ser.
O casamento é a
união de duas pessoas, independente de quaisquer preconceitos, em uma carne. Pode
parecer clichê, mas essa ligação representa um corpo ou uma vida. Todavia esse
elo não significa posse, possuir é o desejo errado, as pessoas não possuem
outras e sim se complementam. Possuir reflete nossa sociedade consumista que deseja
as coisas e no passado (ainda hoje) ser dono de pessoas. Para onde olha quer
ter a coisa, tipificando-a em coisa.
Não somos coisas, e sim seres humanos.
O relacionamento com a natureza é outro exemplo claro (e
caro) dessa união desastrosa, em vez de harmonia e simbiose o que vemos é o
homem sugando e destruindo aquilo que toca com suas mãos. Não é difícil comparar
isso com relações nada sadias que encontramos em nosso mundo.
O circulo representa o infinito dentro de nossa finitude.
O homem toca, gosta e depois joga fora, desencantado com sua
coisa, ele próprio se tornando uma coisa sem encanto. Um círculo vicioso de
relações desarmoniosas.
Quanto comida nós jogamos fora?
Quantos animais na rua?
Quantos desejos viraram dejetos?
Encantar novamente nossas relações é o primeiro passo para
uma sociedade mais humana e (por isso mesmo) justa, contudo não adianta se
preocupar com o erro do outro senão é capaz de resolver seus próprios
problemas.
A elite carioca está em festa. O projeto de cidade global, feito de megaeventos, megaobras e um gigantesco aparato midiático, festejado em palanques e coquetéis, regado a banquetes e intermináveis celebrações, avança a pleno vapor. BOPE, UPP, Choque de Ordem, Recolhimento Forçado e Remoções, a velha receita contra pobre, preto, índio e qualquer um que ouse resistir. Pobre daquele que ouse ser diferente ao que se espera do trabalhador brasileiro para o século 21, constrangido a tudo e sem real direito a nada, senão à degradação da vida na iniquidade cotidiana dos transportes, hospitais, escolas, na precariedade no trabalho, renda insuficiente, sem direito sequer a manifestar-se livremente pelas ruas. Tem de se submeter a tudo e não reclamar de nada, permanecer competitivo num mercado inclemente, surfando na onda do desenvolvimento.
Em nome do Rio novo-rico, pintado pelo mais modernoso paisagismo, terra de ávidos empreendedores e sagazes investidores, desse Rio dourado e suas grandes parcerias público-privadas, em mais uma expressão da histórica camaradagem de elites nacionais e internacionais. Reúnem-se no projeto e modelo “de cima a baixo” de uma imagem do Rio, por meio da qual se continua a explorar, oprimir, expulsar, criminalizar, internar, prender e matar. Sim, e matar, na guerra sem quartel dirigida ao pobre, especialmente o jovem negro.
O Rio é laboratório metropolitano do Brasil Maior e do capitalismo mundial. Está dando certo; recuperamos o glamour perdido para Brasília, somos o point da década, vitrine da superação do atraso. Nada será como antes. Está dando certo; anunciam todos os jornais, revistas e a TV, que repetem a mesma coisa: a roupa, a pose, o rosto, a voz, a seriedade profissional do colonizador e seu sorriso de orelha a orelha. Nenhuma elite mundial persegue com mais fanatismo a mais caricata identificação com os colonizadores. Nesta década, o abismo que separa os altos dirigentes do grosso da gente se fez tão descarado, concrecionado à estética de governo e empresarial. Uma empresa rigorosamente colonial com ares pós-modernos e discurso radical-chiquê, uma superfetação do Brasil nacional-desenvolvido prestes a nascer.
Do urbanismo de amplos espaços da Zona Oeste à superexploração intensiva da Zona Sul, da higienizada Área Portuária às militarmente pacificadas favelas e áreas pobres, em estádios imponentes erigidos sobre o despejo e a destruição, em internatos, hospícios e abrigos; a pilhagem das riquezas da população é garantida e prospera. E multiplica o lucro, sob novas direções, oportunidades e negócios: mais publicitária, mais plastificada, mais “criativa”, mas nem por isso menos brutal. Seu maior sucesso foi tornar-se palatável à esquerda e à direita, justificável pelo interesse coletivo ou individual, pelo empreendedorismo ou pela sustentabilidade, por qualquer desses bordões que aparecem, aos cachos, nos eventos oficiais. Antigas violências assumem novas formas com o bando imobiliário, assumido abertamente, sem pudor, com a empáfia de saqueador orgulhoso.
Enquanto parte do que se define como esquerda patina sobre a miséria de seus trabalhos de base, suas estratégias, formulações e alianças, com uma consciência política que se mostra exímia em capitular diante das primeiras e míseras ofertas; a cidade dos pobres insiste em resistir, na fusão impossível de suas raças inferiorizadas. Essa cidade não é representada em nenhuma dimensão imaginável: cultural, estética, política ou juridicamente. Ela não existe para o novo Rio, não pode existir. Então se recria na luta cotidiana por outra cidade. Outra cidade que já existe, um presente prenhe de potencialidades, uma cidade pulsante e insubmissa, no Horto, na Providência, nos Prazeres, na Vila Autódromo, em tantas e tantas pessoas, grupos, coletivos e redes, informais, precárias, batalhadoras, com o que a vida da metrópole se reinventa em mil outras maneiras de organização, produção colaborativa e afirmação minoritária. Um desejo de viver diferente, desejo que é imediatamente imaginação, e que se movimenta na realidade, que é suplemento de democracia, o viver mesmo: insurgindo-se contra o medo, interrompendo o passo do colonizador, recusando a propaganda, cuspindo na mão esperta que, sob a promessa do progresso, continua roubando, ferindo e humilhando.
A luta avança por caminhos inimaginados e faz do sofrimento uma reafirmação firme de propósito. A condição de luta não cala. Sem a indignação, a persistência em existir e a alegria construtiva, sequer haveria favelas, funk, samba, ritmos, festas, letras, teatros, danças: não haveria a energia de um inconsciente cultural a plena extravazão, rio caudaloso e subterrâneo, inestancável, de onde se extraíram e continuam se extraindo todas as dignidades e saberes vivos desta cidade, esses tão cobiçados por quem agora se apresenta como dono do pedaço.
Neste 15M, venha tramar redes e ocupar as ruas com a gente, porque o tempo e o lugar da resistência não cessaram de existir. Venha conectar-se às redes da cidade viva e seus índios metropolitanos. Pela reorganização do espaço e reocupação do tempo que propiciem forças para continuar lutando por tudo isso, por direitos, renda, condições de fazer cultura e mundo, por outra distribuição da moradia e outro paradigma urbano de transporte e ciruclação; por uma paz verdadeira que só pode ser a da alegria compartilhada, sem medo, sem receio de ser livre.
Pela cidade que queremos e que fazemos, das menores coisas às decisões sobre o que afeta a todos, e sem projetos mirabolantes para um futuro de vidas arrasadas, mas aqui e agora, pelos muitos, nunca depois, agora.
Acabei esses dias de ler o
livro Alimento dos Deuses de Terence
Mckenna. O livro é um estudo da evolução humana através do mundo vegetal. É
sim, esse livro fala de cogumelos e outras plantas psicoativas que na visão de
Terence contribuíram de forma direta em nossa evolução.
“Uma coisa
profunda, inesperada, quase inimaginável nos espera se levarmos nossas atenções
investigativas para o fenômeno dos alucinógenos vegetais xamanicos. Os povos
que estão fora da história ocidental, que continuam na época de sonho da
pré-escrita, mantiveram acesa a chama de um mistério tremendo. Seria humildade
admitir isso e aprender com eles, mas tudo isso faz parte do renascimento
arcaico.”
O autor fala de xamãs, natureza, povos antigos e uso de substâncias
que alteram a consciência de forma positiva ou negativa.
“A noção de
natureza como um todo organísmico e planetário que medeia e controla seu
próprio desenvolvimento através da liberação de mensagens químicas pode ser um
tanto radical. Nossa herança do século XIX é que a natureza não passa de
"dentes e garras", onde uma ordem natural impiedosa e irracional
promove a sobrevivência dos que são capazes de garantir sua própria existência
continuada à custa dos concorrentes. Concorrentes, nessa teoria, significa todo
o resto da natureza. Entretanto, a maioria dos biólogos evolucionários há muito
considera incompleta essa visão darwinista clássica da natureza. Hoje em dia há
uma compreensão geral de que a natureza, longe de ser uma guerra infinita entre
as espécies, é uma infinita dança de diplomacia. E a diplomacia é em grande
parte questão de linguagem.”
Sua critica a
forma como algumas drogas se tornaram durante nossa evolução em legais e outras
em ilegais, é atualíssima e vale ressaltar necessária para quaisquer reflexões sobre
nosso modelo dominador.
“O álcool é usado
por milhões de pessoas, homens e mulheres, e não farei amigos assumindo a
posição de que a cultura do álcool não é politicamente correta. Entretanto,
como podemos explicar a tolerância legal com o álcool, o mais destrutivo de
todo os tóxicos e os esforços quase frenéticos para reprimir praticamente todas
as outras drogas? Não seria porque estamos dispostos a pagar o preço terrível
que o álcool cobra porque ele permite que continuemos com o estilo dominador repressivo
que nos mantém como participantes infantis e irresponsáveis de um mundo
dominador caracterizado pelo marketing da fantasia sexual não realizada?”
Mostra em seu texto uma abordagem favorável à maconha em detrimento aos
críticos da planta.
“Tudo que torna a
cannabis inimiga dos valores burgueses contemporâneos liga-a ao Renascimento
Arcaico. Ela diminui o poder do ego, tem um efeito mitigante sobre a
competitividade, faz com que questionemos a autoridade e reforça a noção da
importância meramente relativa dos valores sociais. Nenhuma outra droga pode
competir com a cannabis em sua capacidade de satisfazer os desejos inatos da
dissolução arcaica de fronteiras e ainda manter intactas as estruturas da
sociedade comum. Se todo alcoólatra fosse um maconheiro, se todo usuário de
crack fosse um maconheiro, se cada fumante fumasse apenas cannabis, as
consequências sociais do "problema das drogas" seriam transformadas.
Entretanto, como sociedade, não estamos dispostos a discutir a possibilidade
dos vícios auto-administrados e a possibilidade de escolha inteligente entre as
plantas às quais nos aliamos. Com o tempo, e talvez em consequência do desespero,
isso acontecerá”.
Sobre uma das drogas mais potentes em nosso mundo atual: a televisão;
(...) A analogia
mais próxima do poder da televisão e dos valores de transformação que ela
trouxe à vida do usuário contumaz é provavelmente a heroína. A heroína achata a
imagem; com a heroína as coisas não são quentes nem frias; o drogado olha o
mundo certo de que, independente do que seja ele não tem importância. A ilusão
de conhecimento e de controle engendrado pela heroína é análoga à suposição
inconsciente que o consumidor de televisão tem de que aquilo que ele está vendo
é “real” em alguma parte do mundo. De fato, o que está sendo visto são as
superfícies cosmeticamente melhoradas dos produtos. A televisão, ainda que não
seja quimicamente invasora, é tão viciante e fisiologicamente prejudicial
quanto qualquer outra droga:
(...) O hábito de
ver televisão distorce a sensação de tempo. Toma as outras experiências vagas e
curiosamente irreais, enquanto assume para si própria uma realidade maior. Ela
enfraquece os relacionamentos ao reduzir e algumas vezes eliminar as
oportunidades normais para conversar, para se comunicar.
Conceituando as drogas...
“Precisamos de uma definição aproveitável do que queremos dizer com droga. Uma droga é uma coisa que causa comportamento não examinado,
obsessivo e habitual. Você não examina o comportamento obsessivo; você
simplesmente o tem. Você não deixa nada se interpor no caminho de sua
gratificação. Esse é o tipo de vida que nos estão vendendo em todos os níveis.
Olhar, consumir e olhar e consumir mais ainda. A opção psicodélica está de
lado, num canto minúsculo, jamais mencionado; entretanto ela representa o único
fluxo diretamente contrário à tendência de deixar as pessoas em estados
programados de consciência. Estados que não são programados por eles mesmos,
mas pela Madison Avenue, pelo Pentágono, pelas 500 corporações da Fortune. Isso
não é apenas uma metáfora; está realmente acontecendo conosco...”
A metáfora dos zumbis como autoimagem angustiante de nossa atual
realidade:
“Não conhecer
nossa verdadeira identidade é ser uma coisa louca, sem alma: um golem. E, de
fato, essa imagem, doentiamente orweliana, se aplica à massa de seres humanos
que agora vivem nas democracias industriais de alta tecnologia. Sua
autenticidade está na capacidade de obedecer e de seguir mudanças no estilo de
massa apresentada pela mídia. Imersos em comida de má qualidade, mídia que é um
lixo e política criptofacista, estão condenados a vida tóxica e com baixo nível
de consciência. Sedados pela dose diária de televisão, são mortos vivos,
perdidos para tudo que não seja o ato de consumir”.
Recomendo para todas as mentes pensantes esse livro, em nosso contexto
atual continua sendo válido para despertar a urgência de uma simbiose com a
natureza... Não sairemos ilesos sozinhos.
“Assim fica
pronto o cenário para a evolução da autoimagem humana totalmente desprovida de
alma, vagueando num universo morto, vazio de significado e sem bússola moral. A
natureza orgânica é vista como guerra, o significado toma-se contextual, e o cosmo é visto como sem sentido. Esse processo de
aprofundar a psicose cultural (uma obsessão com o ego, o dinheiro e o complexo
das drogas álcool/açúcar) alcança seu auge em meados do século XX, com a
espantosa afirmação de Sartre de que a natureza é muda. A natureza
não é muda, mas o homem moderno é surdo – ensurdecido porque não se dispõe a
ouvir a mensagem de atenção, equilíbrio e cooperação que é a mensagem da
natureza. Em nosso estado de negação devemos proclamar que a natureza é muda –
de que outro modo evitar encarar os crimes horrendos que cometemos durante
séculos contra a natureza e contra os outros? Os nazistas diziam que os judeus
não eram verdadeiros seres humanos, e que, portanto, seu assassinato em massa
não tinha qualquer consequência. Alguns industriais e políticos usam um
argumento semelhante, negando a alma do planeta para desculpar sua destruição,
a destruição da matriz necessária a toda a vida”.