terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Morro


Salvador Dali


A chuva que molhava as plantas e fazia alguns homens sonharem com melhor tempo em terras secas, tais como o inferno onde quase nada nasce e tudo um pouco morre, fez a tristeza daquele povo da região. As autoridades sempre preocupadas com a imagem cristalina dos televisores e dos índices de popularidade os havia esquecidos por completo.
A chuva não.
No morro ninguém sabia ao certo que aquele pedaço de terra que já foi feito de cemitério de escravos estava condenado.
Um relatório meses depois foi descoberto por algum gonzo perdido no meio de um número de papéis de todo o tipo, neles e entre eles estava o relatório condenando a colina e pedindo energeticamente que todos os habitantes daquele pedaço de terra fossem alocados para outra região.
A religião do povo daquela área estava dividida em grandes templos distantes e pequenos terreiros por perto.
Uma garota recorda um dia antes da catástrofe, que um preto velho tinha baixado e avisado severamente para seus filhos que aquela terra estava marcada de sangue.
Muita gente não entendeu, alguns resolveram cortar galinhas, outros diziam que era coisa do diabo. Outros, como a garota do relato, saíram dali imediatamente.
A chuva começou devagar, mas a tempestade cresceu durante a noite e os raios riscavam cada pecado dos pecadores que se reuniram no templo.
Quando a imprensa noticiou a catástrofe, um considerável grupo de pessoas já havia sido morto pelos escombros, outras insistiam em chorar ou ajudar nas buscas.
Foi decretado luto oficial.
Preto velho já avisou sobre os outros morros.
Mas as autoridades estão preocupadas demais com seus eventos midiáticos. O povo da região seca reza pela água do céu e os outros rezam para não cair nenhum raio em cima de suas cabeças. O pessoal do templo reza e pede benção, mas deus anda meio sem crédito e sua poupança vazia, logo depósitos e doações são bem vindos de todas as partes.


Plaz Mendes: Esse texto faz parte do livro “Prisão Amarela” pela Editora Multifoco. Interesse? Entre em contato!