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Acabei esses dias de ler o
livro Alimento dos Deuses de Terence
Mckenna. O livro é um estudo da evolução humana através do mundo vegetal. É
sim, esse livro fala de cogumelos e outras plantas psicoativas que na visão de
Terence contribuíram de forma direta em nossa evolução.
“Uma coisa
profunda, inesperada, quase inimaginável nos espera se levarmos nossas atenções
investigativas para o fenômeno dos alucinógenos vegetais xamanicos. Os povos
que estão fora da história ocidental, que continuam na época de sonho da
pré-escrita, mantiveram acesa a chama de um mistério tremendo. Seria humildade
admitir isso e aprender com eles, mas tudo isso faz parte do renascimento
arcaico.”
O autor fala de xamãs, natureza, povos antigos e uso de substâncias
que alteram a consciência de forma positiva ou negativa.
“A noção de
natureza como um todo organísmico e planetário que medeia e controla seu
próprio desenvolvimento através da liberação de mensagens químicas pode ser um
tanto radical. Nossa herança do século XIX é que a natureza não passa de
"dentes e garras", onde uma ordem natural impiedosa e irracional
promove a sobrevivência dos que são capazes de garantir sua própria existência
continuada à custa dos concorrentes. Concorrentes, nessa teoria, significa todo
o resto da natureza. Entretanto, a maioria dos biólogos evolucionários há muito
considera incompleta essa visão darwinista clássica da natureza. Hoje em dia há
uma compreensão geral de que a natureza, longe de ser uma guerra infinita entre
as espécies, é uma infinita dança de diplomacia. E a diplomacia é em grande
parte questão de linguagem.”
Sua critica a
forma como algumas drogas se tornaram durante nossa evolução em legais e outras
em ilegais, é atualíssima e vale ressaltar necessária para quaisquer reflexões sobre
nosso modelo dominador.
“O álcool é usado
por milhões de pessoas, homens e mulheres, e não farei amigos assumindo a
posição de que a cultura do álcool não é politicamente correta. Entretanto,
como podemos explicar a tolerância legal com o álcool, o mais destrutivo de
todo os tóxicos e os esforços quase frenéticos para reprimir praticamente todas
as outras drogas? Não seria porque estamos dispostos a pagar o preço terrível
que o álcool cobra porque ele permite que continuemos com o estilo dominador repressivo
que nos mantém como participantes infantis e irresponsáveis de um mundo
dominador caracterizado pelo marketing da fantasia sexual não realizada?”
Mostra em seu texto uma abordagem favorável à maconha em detrimento aos
críticos da planta.
“Tudo que torna a
cannabis inimiga dos valores burgueses contemporâneos liga-a ao Renascimento
Arcaico. Ela diminui o poder do ego, tem um efeito mitigante sobre a
competitividade, faz com que questionemos a autoridade e reforça a noção da
importância meramente relativa dos valores sociais. Nenhuma outra droga pode
competir com a cannabis em sua capacidade de satisfazer os desejos inatos da
dissolução arcaica de fronteiras e ainda manter intactas as estruturas da
sociedade comum. Se todo alcoólatra fosse um maconheiro, se todo usuário de
crack fosse um maconheiro, se cada fumante fumasse apenas cannabis, as
consequências sociais do "problema das drogas" seriam transformadas.
Entretanto, como sociedade, não estamos dispostos a discutir a possibilidade
dos vícios auto-administrados e a possibilidade de escolha inteligente entre as
plantas às quais nos aliamos. Com o tempo, e talvez em consequência do desespero,
isso acontecerá”.
Sobre uma das drogas mais potentes em nosso mundo atual: a televisão;
(...) A analogia
mais próxima do poder da televisão e dos valores de transformação que ela
trouxe à vida do usuário contumaz é provavelmente a heroína. A heroína achata a
imagem; com a heroína as coisas não são quentes nem frias; o drogado olha o
mundo certo de que, independente do que seja ele não tem importância. A ilusão
de conhecimento e de controle engendrado pela heroína é análoga à suposição
inconsciente que o consumidor de televisão tem de que aquilo que ele está vendo
é “real” em alguma parte do mundo. De fato, o que está sendo visto são as
superfícies cosmeticamente melhoradas dos produtos. A televisão, ainda que não
seja quimicamente invasora, é tão viciante e fisiologicamente prejudicial
quanto qualquer outra droga:
(...) O hábito de
ver televisão distorce a sensação de tempo. Toma as outras experiências vagas e
curiosamente irreais, enquanto assume para si própria uma realidade maior. Ela
enfraquece os relacionamentos ao reduzir e algumas vezes eliminar as
oportunidades normais para conversar, para se comunicar.
Conceituando as drogas...
“Precisamos de uma definição aproveitável do que queremos dizer com droga. Uma droga é uma coisa que causa comportamento não examinado,
obsessivo e habitual. Você não examina o comportamento obsessivo; você
simplesmente o tem. Você não deixa nada se interpor no caminho de sua
gratificação. Esse é o tipo de vida que nos estão vendendo em todos os níveis.
Olhar, consumir e olhar e consumir mais ainda. A opção psicodélica está de
lado, num canto minúsculo, jamais mencionado; entretanto ela representa o único
fluxo diretamente contrário à tendência de deixar as pessoas em estados
programados de consciência. Estados que não são programados por eles mesmos,
mas pela Madison Avenue, pelo Pentágono, pelas 500 corporações da Fortune. Isso
não é apenas uma metáfora; está realmente acontecendo conosco...”
A metáfora dos zumbis como autoimagem angustiante de nossa atual
realidade:
“Não conhecer
nossa verdadeira identidade é ser uma coisa louca, sem alma: um golem. E, de
fato, essa imagem, doentiamente orweliana, se aplica à massa de seres humanos
que agora vivem nas democracias industriais de alta tecnologia. Sua
autenticidade está na capacidade de obedecer e de seguir mudanças no estilo de
massa apresentada pela mídia. Imersos em comida de má qualidade, mídia que é um
lixo e política criptofacista, estão condenados a vida tóxica e com baixo nível
de consciência. Sedados pela dose diária de televisão, são mortos vivos,
perdidos para tudo que não seja o ato de consumir”.
Recomendo para todas as mentes pensantes esse livro, em nosso contexto
atual continua sendo válido para despertar a urgência de uma simbiose com a
natureza... Não sairemos ilesos sozinhos.
“Assim fica
pronto o cenário para a evolução da autoimagem humana totalmente desprovida de
alma, vagueando num universo morto, vazio de significado e sem bússola moral. A
natureza orgânica é vista como guerra, o significado toma-se contextual, e o cosmo é visto como sem sentido. Esse processo de
aprofundar a psicose cultural (uma obsessão com o ego, o dinheiro e o complexo
das drogas álcool/açúcar) alcança seu auge em meados do século XX, com a
espantosa afirmação de Sartre de que a natureza é muda. A natureza
não é muda, mas o homem moderno é surdo – ensurdecido porque não se dispõe a
ouvir a mensagem de atenção, equilíbrio e cooperação que é a mensagem da
natureza. Em nosso estado de negação devemos proclamar que a natureza é muda –
de que outro modo evitar encarar os crimes horrendos que cometemos durante
séculos contra a natureza e contra os outros? Os nazistas diziam que os judeus
não eram verdadeiros seres humanos, e que, portanto, seu assassinato em massa
não tinha qualquer consequência. Alguns industriais e políticos usam um
argumento semelhante, negando a alma do planeta para desculpar sua destruição,
a destruição da matriz necessária a toda a vida”.
Vídeo sobre o Renascimento Arcaico
Thiago Mendes
Mudrasavra
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